Morte por Capes, Pesquisa em Administração e Mackenzie


No dia 13/10/10 o prof. Thomaz Wood Jr., da FGVSP, publicou, em sua coluna na revista "Carta Capital", um texto com o título "Morte por Capes" onde teceu críticas ao que considera o jovem e já atrasado desenvolvimento da pesquisa científica em administração no Brasil.

Os problemas apontados foram principalmente os seguintes: produção periférica, desatualizada, metodologicamente fraca, pouco contributiva para o progresso da ciência e prática administrativa; e a baixa representatividade de pesquisadores brasileiros dentre os principais periódicos internacionais da área.

Quanto aos motivos, o autor recorre a outro pesquisador, Paulo Prochno, que atribui à CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) a responsabilidade pela criação de um sistema de avaliação que contamina a produção científica brasileira tendo em vista dois vícios de origem: o caráter quantitativo da avaliação dos programas de pós-graduação em administração do país e o caráter endógeno do sistema, que é gerido pelos próprios representantes dos programas avaliados.

Prochno, que publicou alguns apontamentos sobre "o que há de errado na área acadêmica de Administração no Brasil", elencou outras questões: a) no Brasil, "profissionais de mercado" são mais valorizados que os professores "PHDs"; b) o mito de que teorias vindas "de fora" não se aplicam no Brasil; c) aqui as escolas de negócios são mais "negócios" do que "escolas"; d) a linguagem dos acadêmicos é "empolada" e pouco aderente à realidade organizacional; e) nossos acadêmicos não dominam o inglês; etc.

Por fim, Wood retoma o texto e denuncia a disseminação, no Brasil, do que denomina de "irrelevâncias pseudoeruditas" bem como a formação dos "burocratas da pesquisa".

Os problemas levantados por Wood e Prochno são pertinentes, mas merecem ressalvas.

Primeiramente, compartilho de sua opinião quanto ao distanciamento entre a pesquisa e os problemas que permeam a vida empresarial. Não que falte suporte teórico científico para a pesquisa que, geralmente, vem acompanhada por excelentes referenciais teóricos e operacionalizada por sofisticada metodologia de coleta e análise de dados. O que falta é muito mais simples: o pesquisador precisa conviver com "o sujeito" da pesquisa sobre o qual se propõe a estudar, entender suas questões, senti-las e, a partir dessa interação, colacionar problemas de pesquisa efetivamente relevantes e que serão estudados e "devolvidos" como materialização do impacto que a pesquisa representou para os pesquisados.

A propósito, tenho para mim que pesquisadores que se valem única e exclusivamente de fontes secundárias para suas pesquisas terão dado contribuição parcial às empresas, pois o essencial da pesquisa social aplicada está no nome: é social e é aplicada.

Também concordo com Wood sobre a pequena representatividade de pesquisadores nacionais nos fóruns internacionais. Essa questão, de fato, tem raízes na resistência brasileira ao domínio do segundo idioma. O que era um trunfo nos idos do Brasil imperial virou um problema em tempos de globalização, mas devagar se avança nessa questão.

PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO E A CAPES

Wood, contudo, ao atribuir ao "sistema" (da CAPES) a responsabilidade pelos problemas levantados, parece não contribuir para o encaminhamento de suas soluções.

Minha resignação se deu com a expressão "jogo de pontinhos da CAPES" tal como provocado por Prochno, e referendado por Wood.

Aqui os ilustres professores cairam na tentação pendular de acolherem o ingênuo "furor crítico", tomando-o como se fosse um saudável exercício da "graça da criticidade" (MORAES, 2000).

A realidade social que ainda se constrói em torno do tema (e a esse respeito recorramos a Kant, Luchmann e Berger antes de proferirmos nossas sentenças) requer que nossas representações sejam feitas com criticididade, entendida como faculdade de discernimento e julgamento mediante o uso de critérios.

É como dizia Pascal Ide, citado por Moraes (2000): "... o homem dá seguidamente a impressão de que sua inteligência é um carro que, esquecido de que tem cinco marchas, desloca-se sempre em primeira... (p. 7).

Exercitemo-nos, então, na crítica da crítica de Wood, mas o façamos parcimoniosamente.

1) É preciso que se tenha em mente que a pesquisa em administração nos Estados Unidos se desenvolve desde 1930 enquanto o marco inicial para a pesquisa no Brasil se deu no ano de 2000, quando CAPES e ANPAD estabelecerem novas diretrizes para o fomento à pesquisa nacional.

Portanto, não somente as deficiências da pesquisa nacional hão de ser reconhecidas mas também o contexto histórico sobre o qual ela vem sido desenvolvida e forjada, em suas origens, trajetórias e contrastes com experiências mais maduras e avançadas.

2) Tive acesso aos critérios utilizados pela CAPES em sua última e recente avaliação trienal (2007-2009), feita em julho de 2010, dos 136 programas de pós-graduação recomendados no Brasil.

Ao contrário de um "jogo de pontinhos", os programas são avaliados sob vários aspectos: (a) as propostas dos programas, (b) o corpo docente, (c) o corpo discente e a qualidade das teses e dissertações produzidas; (d) a produção intelectual, (e) e a inserção social do programa, no que diz respeito à impacto, integração, cooperação e visibilidade em relação aos outros programas, ao meio organizacional e à sociedade de maneira geral.

3) Cientifiquei-me que as avaliações feitas pela CAPES sempre se conduziram por critérios e procedimentos semelhantes aos praticados internacionalmente. Não há invencionices, mas dificuldades em muito semelhantes às enfrentadas por sistemas vigentes em outros países.

Por exemplo, não é razoável a endogenia apregoada por Wood quando se diz crítico da avaliação pelos próprios pares. Em conversas com um experimentado avaliador da CAPES foi-me dito que "ser avaliado pelos pares certamente é muito melhor do que por funcionários públicos do MEC". Tem-se, no fundo, uma discussão sobre se é possível controlar o caos, inerente à vida organizacional, ou se o reconhece-se ante a complexidade e limitação que lhe são inexoráveis, em qualquer parte do mundo.

4) A crítica em torno da discussão "quantidade vs. qualidade" da produção científica deve ser refletida considerando-se não existir consenso sobre a questão, mesmo dentro da CAPES.

É que há uma corrente dominante de pesquisadores na CAPES que defende que "a quantidade leva à qualidade, já que a não aceitação de artigos para a publicação faz com que os autores busquem a melhoria da sua qualidade".

No mais, é o próprio Wood quem reforça o argumento de que "quantidade e qualidade andam juntas" ao afirmar em seu artigo "
Ranking de Produção Científica em Administração de Empresas no Brasil", publicado em 2008 que, enquanto as melhores escolas americanas publicam cerca de 60 artigos por ano em periódicos considerados de nível "A", no Brasil, os melhores programas publicam, em seus equivalentes nacionais, cerca de 15 artigos por ano.

MACKENZIE

Estou há exatos 1 ano e 3 meses imerso na vida acadêmica da área organizacional. Muito pouco tempo para dominar esse mundo novo que se me apresenta. Contudo o que já fiz e vivenciei em anos anteriores me possibilitam arriscar uma singelo diagnóstico que "pára em pé" enquanto novos ventos não soprarem à mesa.

Sou oriundo das ciências jurídicas, formado pela Universidade Mackenzie em 1995. A praxis no direito empresarial, seguida por atuações como gestor de empresas, fez nascer o interesse pelos estudos organizacionais sob um espectro mais amplo que o oferecido pelas discussões heterônomas que regem o Direito. Durante esse período frequentei as escolas de direito da FADUSP, e de negócios da FEAUSP e FGVSP.

Contudo, quando decidi-me por iniciar uma trajetória acadêmica (estudando as organizações), voltei à minha "antiga casa": o programa do stricto em Administração do Mackenzie. As razões da escolha foram as seguintes:

1) Investiguei e descobri que se tratava de um programa refundado há cerca de 10 anos e que, em menos de quatro anos, deixou de receber nota 3 e passou a receber uma inusitada nota 5, o que o alçou dentre os quatro mais bem avaliados do país. Esse reconhecimento foi o resultado de um trabalho de um grupo pioneiro de professores que enfrentou exatamente os problemas levantados por Wood: a questão da contributividade e a questão metodológica.

2) O Mackenzie tem um estrutura diferenciada, superior às melhores escolas de negócios do país (FEAUSP e FGVSP), no que diz respeito a disponibilidade de base de dados, biblioteca e órgãos de apoio à pesquisa (Mackpesquisa), além do intercâmbio por meio de matrículas cruzadas com USP e FGV, o que possibilitariam condições plenas para o desenvolvimento de uma pesquisa profíqua e integrada com outros programas de primeira linha.

3) Por fim, a se reproduzirem os primeiros resultados da avaliação do Programa do Mackenzie, somados às condições oferecidas para o seu estabelecimento, era natural se esperar que em poucos anos a sua avaliação se elevasse para o nível 6 ou até mesmo 7 perante a CAPES. Sobre esse assunto faço comentários ao final.


Ironicamente, a primeira pessoa a trazer-me a informação sobre o bom trabalho que estava sendo feito no Mackenzie foi o prof. Thomas Wood, quando o procurei para trocar umas idéias sobre carreira acadêmica, isso em 2005 quando fui seu aluno de "gestão de operações", lá no CEAG da FGV.

Outra menção honrosa ao programa do Mackenzie é feita pelo Wood no seu Ranking de Produção científica brasileira relativa ao período 2002 e 2006, que coloca o scricto sensu do Mackenzie entre os mais produtivos do país, não obstante tratar-se de um programa relativamente recente, se comparados com os demais cursos, já consolidados há várias décadas.

Por que Mackenzie não é 6 nem 7

Aproveito o ensejo para registrar o que ocorreu na última avaliação da CAPES: FGVSP continuou nota 6, FEAUSP saltou de 6 para 7, UFRGS saltou de 5 para 6, Mackenzie manteve os 5. Até aí tudo bem: mas o que é relevante dizer é que, ao lado do Mackenzie, hoje há mais 13 programas que também são Nota 5, e, antes, parte dessas instituições estavam com nota 4.

O que isso significa? Na minha modesta visão significa que o rápido progresso do programa mackenzista ocorrido lá atrás não se reproduziu nos períodos mais recentes; que agora, as melhorias estão lentamente se homogeneizando com bons programas também em outras Instituições de Ensino; que houve uma reação significativa por parte da FEA/USP e da UFRGS no que resultou a melhoria da avaliação desses programas, e que a FGVSP apenas manteve sua tradicional excelência.


Resumo: a competição tornou-se maior, mais complexa e veloz. Portanto, o alcance da excelência do programa mackenzista exigirá o emprego de novos e renovados esforços, com padrões ainda mais rigorosos, para o seu desenvolvimento e aperfeiçoamento.

A questão é: o que falta para o Mackenzie chegar lá? A CAPES é bastante clara. Reproduzo aqui um trecho do seu relatório (os grifos são meus):

"Notas 6 e 7 foram atribuídas para programas com doutorado, classificados como nota 5 na primeia etapa de avaliação, pois atenderam as condições estabelecidas para tal, apresentando desempenho equivalente ao dos centros internacionais de excelência na área, com nível de desempenho altamente diferenciado em relação aos demais programas da área.

Analisou-se a participação dos programas ou curso em convênios internacionais ativos com resultados evidenciados, a circulação pelo programa de professores visitantes de universidades estrageiras reputadas como de primeira linha, a existência de intercâmbio de alunos com universidades estrangeiras (em ambos os sentidos), a participação de docentes do programa na organização de eventos internacionais, em comitês e diretorias de associações científicas e acadêmicas internacionais.

Os cursos avaliados com nota 6 têm excelente corpo docente, com pelo menso 25% de seus docentes permanentes com publicações de artigos em periódicos classificados nos estratos A1 ou A2, no triênio.

Adicionalmente, pelo menos 35% dos docentes são detentores de bolsa de produtividaide em pesquisa CNPq ou coordenadores de projeto de pesquisa financiado por agências de fomento ao ensino e pesquisa, externas à Instituição de Ensino Superior.

Tais programas são consolidados como formadores de recursos humanos com atuação no Brasil e, alguns deles, no exterior. Representam importantes centro de produção de pesquisa, líderes nacionais na nuclação de programas de Pós-Graduação e de grupos de pesquisa.

Constata-se a existência de ações e formas inovadoras na pesquisa e na formação de mestres e doutores, com resultados concretos em todos eles. Todos representam pólos de atração para a realização de projetos de estágios seniores ou pós-doutorais e de atividades similares, assim como de alunos para projetos de doutorado sanduíche.

CONCLUSÃO?

Nesta semana participei do culto de ações de graças em agradecimento a Deus pelos 140 anos de existência da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Também passei os olhos nas 10 cartas de princípios disponíveis no site da instituição.

Essas cartas me remeteram à lembrança sobre a origem de Universidades como as de Princeton, Yale, Oxford, Harvard, todas de caráter confessional.

Tais universidades encontram-se relacionadas no
TOP 100, preparado pela Universidade do Texas, que consiste no ranking das 100 principais escolas de negócios do mundo, segundo o critério de produção científica.

Observo que não há nenhuma escola latino-americana que seja considerada entre as melhores do mundo.


Também observo que o programa do Mackenzie não mantem relações de cooperação com nenhuma dessas instituições acadêmicas ranqueadas no TOP100, nem mesmo com aquelas de origem confessional.

O que a questão levantada por Thomaz Wood, a CAPES e a avaliação do programa do Mackenzie tem a ver com tudo isso?

Bem, deixarei a poeira abaixar e só depois prepararei um novo post para refletir sobre a relação entre confessionalidade, excelência acadêmica e oportunidades de internacionalização em uma instituição de orientação reformada.


Agora saio de casa para o Mackenzie para ouvir uma preleção sobre ninguém menos do que ... Michel Focault ... é mole?

Comentários

Leandro Lopes disse…
Boa Ricardito,

Muito claro suas explicações e compartilho de seu ponto de vista.

Desconhecia muitos pontos do processo de avaliação da CAPES antes desse post.

E realmente o Mackenzie tem muitos pontos positivos. Entretanto com muitas instituições conseguindo nota 5 (como foi o caso recente da Uni9), será necessário por parte do Mackenzie voltar de forma natural sua atenção para as "cooperações" com instituições internacionais mais expressivas.

O problema é o grau de burocracia e interesse para isso acontecer.

Abraço.
Unknown disse…
Magnífico. Abraços, Marcos Bidart
Anônimo disse…
Cara, você escreve muito bem!!!

Abraços,

Juliana Ferraz
Claudio Marra disse…
Caro Ricardo

Muito obrigado pelo link. Não é minha área, mas acompanhei o raciocínio e gostei do seu preparo e gosto para o assunto.

Vou espalhar por aí que somos amigos.

Seu blog está nos meus favoritos.

Cláudio Marra
Renato disse…
Bom texto Ricardo,

Abraço

Renato
Anônimo disse…
Prezado colega, a despeito do seu artigo, tenho uma série de discordâncias. Não irei me ater a sua totalidade nesse momento porque os pontos de discordâncias são de natureza estrutural e não conjuntural e por terem essa natureza, não existe possibilidades de discutir nesse espaço (considero restrito). Acredito que universidades confessionais devem, ao contrário, das "PRIVADAS", fomentar o pensamento crítico e pensar novas formas de fazer ciência, do conhecer, do saber e por sua vez do fazer gestão, no nosso caso em especial - PPG Administração.
Se queremos tanto o tão almejado 6, 7, "8" e quem sabe "10", devemos mudar as estratégias e investir mais em infra-estrutura (por isso que me referi ao problema como estrutural e não conjuntural). Investir em infra-estrutura significa salas de estudo para alunos e professores, apoio a eventos... Sou aluna em tempo integral do programa PPGA e não tenho sala no campus para estudar, sequer tenho acesso aos professores em outro horário que não seja o da aula, por falta de espaço e de tempo dos próprios professores (eles trabalham muito, diga-se de passagem). Quero dizer com isso, que para atingirmos o tal 6 ou 7, não basta apenas internacionalizar o programa, fazer convênios com MIT, Princeton, falar 3 idiomas....blá, blá, blá...Necessitamos de um programa aonde os alunos possam ter convivência com os professores no dia a dia - para isso precisamos de salas de estudo para alunos e professores e de mais professores! Necessitamos de eventos acadêmicos onde seja possível refletir criticamente as questões que se colocam nesse novo processo civilizatório. Isso fará do Mackenzie uma universidade confessional vanguardista e progressista, um diferencial em minha opinião, que estrategicamente poderá render alguns frutos ($$$$$), já que se costuma usar a lógica de mercado para discutir educação!
Em tempo que parabenizá-lo pela iniciativa!
ricardo disse…
Prezados Leandro, Bidart, Juliana, Renato e Claudio, obrigado pela apreciação da discussão.

Prezada Ana, percebi que o comentário "anônimo" foi seu, não é? Pois bem, agradeço-lhe a participação e a posição discordante, pois enriquece e amadurece o debate.

Contudo, gostaria de replicar que o enfoque do texto está assentado em duas questões: (a) os critérios de avaliaçã da CAPES são eficazes para o desenvolvimento da pesquisa em administração do país? (b) Como o Mackenzie tem sido avaliado sob o crivo desses critérios?

À primeira questão, respondi que a CAPES tem cumprido seu papel se considerados o ainda jovem marco regulatório da pesquisa em administração do país.

À segunda questão, que remete para o problema da internacionalização, trata de encararmos nosso programa na perspectiva de quem avalia. E é a CAPES quem dá a direção sobre o que temos e o que não temos feito para alcançar a excelência.

A confessionalidade é um tema que introduzi mas não desenvolvi. Deixo para tratar num próximo post.

Abçs.
Prezado Ricardo

Irei aguardar o próximo post para debatermos um pouco mais.

Quanto aos comentários aos quais você se referiu foram feitos por mim. Não tive intenção de me colocar como anônima, tanto é que em seguida procurei consertar o equívoco.
Grata
Paulo Prochno disse…
Ola Ricardo,
Agora sou eu (o autor do artigo no administradores que o Thomaz citou) contribuindo para o debate... Sim, os criterios da Capes sao mais abrangentes - mas isso nao significa que os professores nao sejam pressionados fortemente por suas instituicoes para fazer os tais pontinhos. E, como a lista de publicacoes (quais valem pontos, e quantos pontos) ainda eh ruim, essa pressao leva a escolha errada de onde concentrar esforcos. Mas claro, isso tudo se partirmos da minha premissa original do artigo, que assume que deveriamos ter pesquisadores brasileiros em administracao com destaque mundial (muita gente acha que nao, e respeito essa opiniao). O unico que conseguiu isso ate hoje foi um professor do Insper, justamente durante o periodo que o Insper nao dependia da avaliacao da Capes porque ainda nao tinha mestrado. Para mim a correlacao eh clara.
E o argumento que "ainda somos jovens, estamos comecando" nao eh desculpa: a Coreia do Sul ou Cingapura tambem ainda estao comecando e tem muito mais pesquisadores de destaque mundial na area. Eu voltei ao Brasil em 2002, apos meu doutorado, mesmo sem nenhuma obrigacao (nao tive bolsa brasileira), por idealismo mesmo. E, ao tentar argumentar contra algumas das medidas da Capes na epoca, escutei esse mesmo argumento de "ainda estamos comecando". Fiquei mais 5 anos, o argumento nao mudou, nada mudou. A pressao por pontinhos todo ano continuava, e levava a escolhas de curto prazo. Nao tive escolha: sai do Brasil. E, mesmo adorando o pais e os alunos que eu tinha por ai, nao tenho a minima vontade de voltar enquanto as questoes que explorei em meus 3 artigos (que vao bem alem da questao dos pontinhos da Capes) nao mudarem. E nao sou o unico exilado: tem gente em Wharton, Kellogg, MIT, que poderia estar no Brasil se algumas coisas fossem diferentes. Eu senti na pele os dilemas de querer fazer um trabalho de impacto mais internacional num ambiente que nao valoriza isso; resta-me entao tentar continuar o debate para que isso seja discutido mais abertamente - a maioria sabe desses problemas, mas todos ficam quietos porque dependem das tais avaliacoes.
E o problema principal que vejo eh que o nivel 6 ou 7 da capes eh uma abstracao: "desempenho equivalente ao dos centros internacionais de excelência na área" - qualquer avaliador externo de um dos centros de excelencia internacionais nao daria esse conceito para nenhuma escola brasileira (pelo menos nao em pesquisa). E a unica forma de fazermos com que nossas escolas atinjam esse nivel de desempenho eh mudar radicalmente a logica atual de medida de seu desempenho.
Entao voltemos ao Ron Burt, que voce cita em outro post (ele foi um dos meus professores no doutorado, mas nao enveredei por essa area), e ao Granovetter: o Brasil tem uma network bem fechada de academicos, com muitas strong ties no circuito anpad-capes. O problema eh que qualquer um que quiser preencher um structural hole entre a rede brasileira e a rede internacional acaba alienado, porque as regras sao definidas pela network densa. Dar mais oportunidades para inovacao atraves de weak ties significaria ter que acabar com algumas das regras da network dominante.
Enfim... minha visao pode ser idiossincratica, talvez nao dei sorte ou nao tenho talento para ser feliz no ambiente academico brasileiro. Mas pela reacao que os artigos causaram, talvez outros passem pelos mesmos dilemas.
Parabens pelo blog, muito bom ver alguem interessado e participativo!
Abraco,
Paulo
ricardo disse…
Prezado Prof. Paulo Prochno

Sinto-me honrado pela sua manifestação no blog, pois enriquece tremendamente a discussão.

Tenha certeza que seu contra-ponto será lido por pessoas ligadas à CAPES e, quem sabe, essa discussão toda, iniciada por você e pelo prof. Thomaz, faça ceder as "strong-ties" por você referidas.

Como deve ter percebido, sou um novato na academia. Mas pretendo entrar para ficar e ainda acredito no sistema.

Sucesso!!

Ricardo

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